terça-feira, 25 de agosto de 2009

Livro: "Ao Vivo do Corredor da Morte"


Comecei recentemente a ler um livro ("Ao vivo do corredor da morte" – Mumia Abu-Jamal) que mostra muito bem o quando péssimo á ser condenado á morte e as coisas em que o sistema falha. Mas acima de tudo o livro também retrata sentimentos que nos nunca saberemos o que são e mostra coisas que não passa na cabeça de ninguém como é possível que isto aconteça. São coisas que “oscila entre o banal e o bizarro” como diz o autor. Gosto tanto deste livro que vou deixar aqui as duas partes que mais gostei.


Capitulo “Controlo”:


(…)
A vida aqui oscila entre o banal e o bizarro. Ao contrário dos outros presos, os condenados á morte não estão a “cumprir pena”. A liberdade não surge ao fim do túnel. O fim do túnel é a escuridão. Assim, para muitos de nós, não há esperança.
A exemplo do que se passa em qualquer outra organização militarista, a realidade no corredor da morte é regimentada por ordenanças e regulamentes. Como em qualquer outro regime imposto, há resistência, mas muito menos do que seria de esperar. Na maior parte dos casos, os condenados á morte portam-se melhor e são menos zaragateiros do que os outros presos. Também é verdade, contudo, que temos poucas oportunidades para nos comportarmos de maneira diferente dado que passamos 22 horas fechados numa cela e só temos 2 horas de recreio. Esse recreio tem lugar numa jaula rodeada de arame farpado – a “casota do cão”.
Todos os corredores da morte partilham o mesmo objectivo: “armazenamento humano” num “mundo austero em que os condenados são tratados como corpos mantidos vivos a fim de serem mortos”


Capitulo “humilhação”:


(…)
As visitas são um ritual humilhante. Na Pensilvânia como em outros estados onde a pena de morte existe, as visitas sem contacto físico constituem a regra. Não se trata apenas de um regulamente de segurança; é uma arma para tentar destruir elos emocionais, não permitindo contacto físico entre o visitante e o preso. As visitas são conduzidas a uma sala fechada com uns dez metros quadrados de superfície. O preso esta algemado e separado por um vidro inquebrável.
Mas aquilo a que os visitantes não assistem é um espectáculo horrível. Antes da visita, somos revistados minuciosamente em todos os orifícios do corpo. Uma vez o preso nu, o guarda dá-lhes as seguintes ordens:
“Abre a boca.”
“Põe a língua de fora.”
“Tens dentes postiços?”
“Mostra cá as mãos”
“Puxa o prepúcio para trás”
“Levanta os tomates.”
“Vira-te.”
“Afasta as nádegas.”
“Deixa-me ver as plantas dos pés.”
“Veste-te.”

Vários presos tem protestado junto da administração argumentando que este género de tratamento antes e depois das visitas sem contacto físico não se justifica. Ou as visitas com contacto físico são autorizadas ou se deixa de revistar os presos desta maneira. Mas a administração reagiu como as máquinas de escrever, recusando a petição por motivos de segurança.” (…)
O principal efeito das visitas sem contacto físico é debilitar e, finalmente, cortar laços familiares. Através desta politica e pratica, o estado recusa hábil e intencionalmente uma relação humana fundamental àqueles que condena e, por conseguinte, mina os elos familiares, já de si ténues devido á separação. Deste modo, os reclusos encontram-se tão isolados psicologicamente como temporal e espacialmente. Através desta acção do estado, aqueles que os amam e os conhecem consideram-nos como se tivessem morrido e, consequentemente, os próprios presos vêem-se mortos. O convívio é essencial aos seres humanos.
(…)

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