Os meus perfumes

"Valorizo sobre o pescoço nu uma suave fragrância que envolve o ar que me cerca. Esse efeito desperta os meus sentidos mais profundos: aqueles que não consigo controlar.
É um bálsamo poderoso, algo meramente impulsivo. Bem como as minhas emoções, as minhas relações que sempre tive e de nada me arrependo: são os rapazes da minha vida. Todos eles foram “o rapaz da minha vida, curiosamente. Não sei se feliz ou infelizmente, nenhum falhou em sobrepor-se ao anterior. Todos superaram, todos tinham algo de especial para mostrar e dar e isso… eu não posso negar que em todos eles havia um pequeno pormenor que me atraia.
Todos os meus perfumes, aqueles que usei ao longo de todo este tempo, os mais diversos, todos representam alguém em particular. O odor, a doçura, o sabor, a textura da pele, a cor dos olhos, o tom da voz, tudo isso recordo com orgulho mas também ardor… os rapazes da minha vida. Uma árdua recordação que abusivamente invade o meu espaço, o espaço que supostamente me deveria proteger como um escudo, das emoções e dos sentimentos e de todos os que só me magoaram… isto quando cada um superou o anterior. Doloroso.
Olho para todos os frascos passados, conto cada um e nenhum é igual. Procuro reagir, positivar a relação que me une e tais memorias e recordações que me queimam lentamente. Esqueço um odor que partiu para sempre. Um odor que já foi meu, outros tempos. Agora mata me quando o lembro sem recear a minha revolta. Eu só esqueço.
Os perfumes simbolizam os homens, aqueles que tive e significaram a minha vida. Todos aqueles que partiram do meu corpo, levaram para si uma parte substancial do meu ser.
Fixo o fundo de alguns perfumes inacabados e relembro me dessas relações, perto da loucura. Apercebo me do tanto que estive para comprar um perfume novo, igual ao anterior. O erro que eu ia cometer.
Nunca reaprovei um perfume, nunca reutilizei. Porque nenhum rapaz da minha vida passada, voltou, ou voltará, a sê-lo no futuro desse mesmo passado, o presente.
O odor não volta!"

Sofia Marques